Há décadas, o brasileiro associa a seleção brasileira
de futebol à voz de Galvão Bueno e às transmissões exclusivas da Rede Globo,
seja um amistoso diante de poderosos adversários europeus e sul-americanos ou
medíocres sacos de pancadas em autênticos jogos caça-níqueis. Devido à falta de
acordo entre a emissora e a Confederação Brasileira de Futebol – CBF, dona dos
direitos da marca “seleção”, para a exibição de dois amistosos em terras
australianas – um com os arquirrivais argentinos; outro com os anfitriões - eis
que, na última sexta-feira, dia 09 de junho de 2017, o monopólio foi rompido. A
partida com os “hermanos” pôde ser vista na TV Brasil, emissora pública, e no
Facebook.
Há muito o futebol virou mercadoria, um produto
altamente rentável. Muito já se escreveu e se escreve a respeito e eu não tenho
a intenção de aprofundar o tema. Como diz o ditado, “o jogo é jogado e o
lambari é pescado”. Não deixa de chamar a atenção, entretanto, que o “Jornal
Nacional” do dia 08 de junho, ao longo dos seus cinquenta minutos tenha,
deliberadamente, ignorado o amistoso com os portenhos. Nenhuma palavra. Nenhuma
entrevista enfadonha com técnico e jogadores. Falou-se, sim, da comemoração de
vinte anos do primeiro título de Guga no piso de saibro de Roland Garros. No
dia seguinte, no matutino global “Bom Dia, Brasil”, veiculado no mesmo horário
do amistoso, novo silêncio. Nos portais de notícia do grupo Globo, antes e
depois da partida, pouco destaque.
Se, por um lado, a Globo perdeu o monopólio da
transmissão dos jogos da seleção brasileira de futebol, por outro não lhe
devemos impor o monopólio da vilania neste terreno do jornalismo esportivo.
Acredito que, se trocássemos o nome da emissora, o efeito da falta de acordo com
a CBF seria o mesmo, a cegueira seletiva tal qual uma criança que fica de mal
quando lhe é negada uma guloseima. O buraco é mais embaixo.
O futebol é patrimônio cultural brasileiro, é a pátria
de chuteiras, forja nossa identidade nacional, é parte de quem somos, de como
nos vemos e de como queremos que os outros nos vejam. Para o bem e para o mal.
O futebol brasileiro não deveria ser apropriado por ninguém. Não deixa de ser
irônico que um dos mais famosos slogans da TV Globo seja “Globo, a gente se vê
por aqui”, como que reafirmando nossa brasilidade na telinha do plim-plim. Ignorar
um Brasil e Argentina é mandar às favas o interesse público, a informação
relevante.
O resultado? Bom, não foi dos piores. Um a zero para
“eles”, e meu coração ficou metade feliz.
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