Elogio à burrice


Numa época em que o fluxo de informações é a regra; em que as fronteiras simbólicas das identidades são questionadas, desafiadas, rompidas, reconstruídas; em que as verdades de hoje são as mentiras de amanhã; em que os muros da “comunitas” apresentam mais e mais fissuras até o ponto de desabarem como um castelo de cartas; nada mais natural que a reação conservadora daqueles que temem a insegurança ontológica, que não sabem lidar com o desconhecido, ou melhor, negam-no até as últimas consequências, se for o caso. Escolhem aquilo que Sartre chamou de “constância e impermeabilidade da pedra”, em Reflexões sobre o racismo. A terceira lei de Newton, “a toda ação, cabe uma reação”, transplanta-se à realidade social. Assim, podemos compreender movimentos como o “Escola sem partido” que, na verdade, propõe o pensamento bovino, de rebanho, irreflexivo, de manada, da caserna, que bate continência, “sim, senhor”, ou a iminente eleição de um “pastor” que, prática e metaforicamente, orientará suas ovelhas ao caminho da luz.




Um sopro de inteligência vem das palavras do filósofo italiano Nuccio Ordine: “Não nos damos conta, de fato, de que a literatura e os saberes humanísticos, a cultura e a educação constituem o líquido amniótico ideal no qual podem se desenvolver vigorosamente as ideias de democracia, liberdade, justiça, laicidade, igualdade, direito à crítica, tolerância, solidariedade e bem comum”.
Lamentavelmente, vivemos uma época em que temos de dar razão às palavras de Nelson Rodrigues:
“Invejo a burrice, porque é eterna”.

“A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”.

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