A
morte do estilista alemão Karl Lagerfeld, diretor criativo da Chanel, aos 85
anos, deixou órfãos não só os amantes da alta costura – e os consumidores com
grana suficiente para banca-la, sem ignorar as falsificações paras todos os
gostos e bolsos – mas também e principalmente sua companheira de alcova com
quem dividia o travesseiro de seda. Choupette – em francês, algo como “docinho”,
“querida” ou “fofinha” - uma gata da raça burmês de oito anos de idade era a
paixão de sua vida, viajava com ele em jatinhos privados, tinha seu próprio
chef, um cabeleireiro exclusivo, dois empregados que lhe faziam companhia e acompanhavam-na
à visita semanal ao veterinário, seguia uma dieta elaborada por nutricionista e
tinha, porque ninguém é de ferro, uma coleção de colares de diamante.
Choupette
foi “raptada” em 2011, depois de passar duas semanas sob os cuidados de
Lagerfeld enquanto seu “dono” original, um modelo francês, desfilava por aí e
que, ao retornar para “resgatá-la”, ouviu simplesmente que a felina não mais lhe
pertencia. Transformou-se numa modelo internacional, posou na Torre Eiffel e
participou de duas campanhas publicitárias que lhe valeram nada mais, nada menos,
do que cerca de £2.3 milhões – algo como R$ 11 milhões. Ela tem uma conta no
Instagram com mais de cento e vinte e oito mil seguidores e agora periga abocanhar
parte da fortuna acumulada pelo estilista, em torno de £150 milhões.
Eu nunca
fui um cara dos gatos, sempre fui mais apegado a cães. Quando comecei a namorar
a Renata, tive de me acostumar com a presença da Prudence, sua gata persa
cinzenta de cara achatada. Ela não ia muito com a minha... A futura cunhada
também tinha sua dona – entenderam a inversão, né, porque nós, humanos, somos
humildes inquilinos da afetividade felina – a Elsie, uma siamesa. Uma terceira
gata – era uma casa exclusivamente de mulheres -, linda, de olhos azuis, foi
chamada de Amélie, em homenagem à protagonista do filme “O fabuloso destino de
Amélie Poulain”.
Quando
fomos morar juntos, para diminuir a tristeza da Renata pela separação da
Prudence, trouxe para casa, de presente de aniversário, nossa primeira filha
felina, a Guadalupe. Um ano depois, adotamos a segunda, branquela de rabo
amarelado, a Guilhermina. Já pais de um humano, adotamos o terceiro felino, o
Leopoldo, um autêntico vira-lata amarelo brincalhão e carinhoso, como as outras
duas, cada uma de seu jeito. Hoje, não consigo mais me imaginar sem a presença
dessas criaturas adoráveis, que fazem a nossa vida mais feliz. Tenho a certeza,
também, de que há uma sociedade secreta dos donos de gato, que se reconhecem
nas ruas, no trabalho, nas reuniões de condomínio. E acredito no seu poder
terapêutico, porque nada como observar-lhes o ar blasé para que uma sensação de
bem-estar nos invada, ainda que momentaneamente.
Sim,
eu converso com meus gatos fazendo aquela voz infantilóide. Digo “tchau” quando
saio de casa e pergunto-lhes como passaram o dia quando volto no final do dia. Esfrego
a minha cara nas suas panças peludas. Faço-lhes carinho no papo porque adoro
ouvir seu ronronar. Encolho-me todo na cama porque não sou besta de tirá-los da
cabeceira, onde dormem em berço esplêndido, e acordo todo doído e com
torcicolo.
Aguento
estoicamente a aspereza de suas lambidas. Adoro observar sua imponência, seus
olhares penetrantes como se nos estivessem decifrando a alma, a delicadeza do
seu caminhar. Sua arrogância. Divirto-me com sua exigência por comida sempre fresca,
intolerantes com a aparição do fundo da vasilha de cerâmica, batendo ansiosamente
com as patinhas até que reponhamos a quantidade que julgam adequada.
Observo,
divertido, seu sadismo brincando com os insetos que ousam nos perturbar. Sua
capacidade surreal de adivinhar nossos humores, se estamos felizes ou
miseráveis. Pidões, nos cabeceiam esmolando um singelo carinho no cocoruto. Reis
e rainhas do asseio, não nos perdoam por deixar acumular sujeira na caixa de
areia, deixando-nos de “presente”, pelos cantos da casa ou enrolados nos
tapetes da cozinha, toletes de cocô dignos de um humano.
Achei muito engraçada a lista de dez motivos para
adotar um gato (ou uma gata) que li na página “Cansei de ser gato”, do Facebook
(facebook.com/canseidesergato), com a qual concordo, me identifico e gostaria
de compartilhar. Então, lá vai:
Você não vai mais precisar de despertador (seu gato sempre
vai ter acordar um pouquinho antes de ele tocar)
Você vai ter que aprender a desapegar das coisas materiais
(tudo que era seu passará a ser do seu gato)
Você não ficará mais nem um minuto sozinho (nem no banheiro)
Você aprenderá a lidar com novas prioridades (se você tem
algo pra fazer, mas seu gato está no seu colo, você não tem mais nada para
fazer)
Você aprenderá a dormir sem se mexer (para não incomodar o
sono do seu gato)
Você entenderá o verdadeiro significado de entretenimento
(quando passar horas observando e se divertindo com o comportamento do seu
gato)
Você poderá ficar tranquilo, por mais estressante que seja o
seu dia (a massagem está garantida)
Você tem cólica? (sua nova bolsa de água quente chama-se
gato)
Você se tornará um humano melhor (o ronrom do gato faz bem
para a saúde mental dos humanos)
Gatos são perfeitos
Falando do seu desejo de “oficializar” sua relação com Choupette,
Lagerfeld disse, certa vez, que ainda não há casamento entre seres humanos e
animais, embora nunca pudesse imaginar que se apaixonaria desta forma por um
gato.
Nem eu, querido, nem eu…
Guadalupe, a primogênita
Guilhermina
Leopoldo, o caçula
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