A sociedade contemporânea vive um paradoxo. Embora
estejamos conectados a tudo e a todos o tempo todo através do telefone celular
e das redes sociais, que vivamos a época do instantâneo, que façamos mais e
mais amigos (virtuais) no Facebook, mais nos sentimos solitários, desamparados,
desprotegidos, abandonados. Nunca fomos tão individualistas e individualizados.
Nunca a embalagem foi tão mais importante do que o conteúdo, e a quantidade de amigos
e de “curtidas” dos “posts” praticamente substituiu o contato humano, a troca
de olhares, de confidências, de dores e dissabores, de alegrias e prazeres da
vida. Chegamos ao cúmulo de achar que o Pokémon Go tem lá suas virtudes, afinal
de contas, tira as crianças (não só as crianças) de casa, transformando-as em
caçadores robotizados solitários de bichinhos virtuais nas ruas da cidade.
Outro dia, Miguel veio me descrever o clipe de uma
música que o vovô Jacques lhe mostrou no Youtube. A descrição foi
engraçadíssima e eu identifiquei de cara, era “Another brick in the wall”, do
Pink Floyd. Nem um pouco engraçado são os alunos robotizados e idiotizados, que
não aprendem a pensar e apenas seguem as ordens do professor. “We don’t need no
education”. Experimente entrar num vagão do metrô na hora do rush e verá um
exército de alunos robotizados e idiotizados, encurvados, imersos nas telas dos
celulares, trocando mensagens descartáveis no Whatsapp, jogando “solitária”
(nome mais apropriado, impossível) ou ouvindo música em alto volume, fora os
que insistem em sentar nos lugares destinados a portadores de deficiência,
idosos e gestantes que fingem dormir para não terem de ceder a vez. A multidão
cada vez mais solitária.
Como humanizar a cidade?
Renata escreveu, num cartaz, “abraços grátis” e
seguimos, os três, para o Boulevard Olímpico onde o fluxo de pessoas, durante
os Jogos Olímpicos, foi intensíssimo. Eu e Miguel, confesso, estávamos
envergonhados. Talvez por incorporarmos a ideia de que só um maluco para oferecer
abraços grátis no meio da rua, lugar de passagem, da impessoalidade e do medo
do “outro” desconhecido, potencial inimigo. Vergonha alheia pelo risco da
ridicularização no espaço público, a rainha nua. Postou-se no meio do caminho e
ali ficou por bastante tempo. As reações de quem passava foram as mais
variadas: incredulidade (“que porra é essa?”), surpresa, indiferença, alegria.
Aos poucos, os abraços foram sendo distribuídos, abraços simples, abraços
coletivos, abraços envergonhados, abraços longos, abraços cosmopolitas (sim,
ela escreveu “free hugs” no cartaz também). Abraçar estabelece uma relação de
afetividade entre quem abraça, trocamos de corpo, fundimos os dois num só,
restauramos a humanidade perdida no dia-a-dia insano da metrópole. Devolve um
pouco da autoestima porque somos reconhecidos pelo outro, como parte de um todo
comum.
Depois, senti vergonha de ter sentido vergonha alheia.
Enterneci-me com a emoção e a alegria que jorravam dos olhos de Renata.
E você, já abraçou hoje?
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