Na crônica “Experiência de ribalta”, publicada em
1960, Fernando Sabino descreve suas aventuras e desventuras como ator nos palcos
mineiros antes de tornar-se o autor de “O homem nu” e “O grande mentecapto”. Sua
breve, embora marcante, carreira artística teve um de seus capítulos no Teatro
Municipal de Belo Horizonte.
“Tudo começou muito bem e cumprimos à risca nosso
papel, compenetrados e graves – o que não durou mais que dois minutos. Depois
abandonamos nossas batinas nos bastidores e nos distraímos brincando de pegador
atrás dos cenários. (...) Eis senão quando tropeço numa trave de madeira e
rompo a tela do cenário para surgir como um rojão em pleno palco, em meio a um
dueto, num tombo espetacular. (...) O pano caiu. Meu mundo caiu. (...) Saí em ofegante
corrida pela rua, com a impressão de ter mil barítonos nos meus calcanhares”.
Mas Sabino não desistiu.
“Não se encerrou aí minha brilhante carreira de
ator, pontilhada de sucessos, não digo tão rasgadamente acidentados, todavia
bem mais surpreendentes. Sucessos que só não se tornaram de bilheteria por eu
não ter encontrado na época o acolhedor estímulo que a crítica dispensa hoje em
dia às vocações inexistentes”.
A fina ironia cabe como uma luva nos dias que
correm, passados mais de cinquenta anos da publicação da crônica, sobretudo
quando avaliamos os chamados “famosos”, indivíduos alçados ao estrelato instantâneo
merecedores de capas de revista e longas entrevistas reveladoras de suas ideias
e valores (?), os quais, via de regra, salvo raríssimas exceções, encaixam-se
nas ditas “vocações inexistentes”.
Uma rápida “googleada” me aturde com informações que
não poderia deixar de perder. Vejamos algumas, pescadas aleatoriamente do site “EGO
– famosos e famosas do Brasil e do mundo”:
“Thalita Zampirolli mostra cintura fininha em foto de biquíni”
“Cacau (é um moça) posa de ‘surfista’ e mostra a nova
silhueta”
“Noiva, Adriana Bombom diz não se importar com ‘jabás’
no casamento”
“Viviane Araújo mostra cinturinha e boa forma em selfie
na academia”
“Bruna Marquezine faz selfies de sutiã durante ensaio
fotográfico de moda”
“Stefhany Absoluta mostra barrigão de oito meses e
fala sobre gravidez de risco”
“Duda Nagle e Sabrina Sato posam no Líbano”
“Aryane Steinkopf posa de lingerie com o marido e
ganha carinho”
“Preta Gil faz caras e bocas com a neta, Sol de Maria,
e encanta seguidores”
“Ex-BBB Francine posa decotada para selfie e ganha
elogios: ‘maravilhosa’”
O comediante W.C. Fields disse, certa vez, que Marilyn
Monroe era “um vácuo com tetas”. As tetas que hipnotizaram Kennedy foram
substituídas, hoje, pelas tetas turbinadas com silicone, pela “cinturinha”, pernas
e coxas musculosas alimentadas por horas e mais horas de malhação no templo dos
“famosos”, a academia, não a de letras, mas a de musculação. A fama pela fama.
Por outro lado, pensando bem, a indústria da fama é um
alento nesta época de economia em frangalhos. O que seria, por exemplo, da “assessoria
de imprensa” da famosa que tem de desmentir um “affair” com ator casado ou uma
gravidez inesperada (indesejada), ou divulgar que está tudo bem após ficar presa
no aeroporto de Nova Iorque por conta da nevasca, ou entrar em contato com as
assessorias de imprensa de jornais e revistas plantando a pseudonotícia de que
a famosa estará em tal ou qual lugar, que foi à padaria comprar pão e mortadela?
O que seria do consultor de imagem e comportamento? O que seria da própria
famosa, cuja simples presença em eventos de marketing ou festas de quinze anos
rende bons trocados, são filhas de deus, ora bolas?
Deixemos de inveja. Cada um no seu quadrado.
Agora, deem-me licença porque chegou a Caras e o
intestino está reivindicando minha atenção.
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