Ontem, na volta do trabalho, passei no mercado do
outro lado da praça. Precisava comprar um pedaço de queijo minas, um pouco de
queijo prato, outro tanto de presunto, um pote de iogurte desnatado, um pepino.
Na fila para o caixa, ouço um menino adolescente tocando violino, alguma música
popular brasileira que não me recordo agora, acompanhado pelos sussurros do
senhor atrás de mim. O estojo, aberto à sua frente, convidava os clientes do
mercado e quem passasse pela calçada a depositar um trocado. A senhora à minha
frente tira da sacola de compras um chocolate Kit Kat (meu preferido, acho que
do Miguel também) e, virando-se para a atendente, diz que, por não ter dinheiro
em espécie, vai dar a guloseima para o jovem violinista. Vejo-a depositando o
Kit Kat sobre o estojo. Um pouco de doçura para uma vida amarga, talvez. Saco
uma nota de dois reais e deposito dentro do estojo, onde outras poucas notas de
dois reais e algumas moedas lhe fazem companhia. O menino agradece, começa a
chover, aperto o passo, cruzo a praça e entro no edifício.
Veio o arrependimento. Devia ter puxado papo com ele.
Saber um pouco de sua história. Onde aprende a tocar o violino. Se tem algum apoio
financeiro. Talvez não quisesse atrapalhá-lo na tarefa de conseguir algum
dinheiro, quem sabe para custear os estudos de violino ou comer algo antes de
dormir e recomeçar a batalha por mais um prato de comida no dia seguinte.
Enquanto isso, o Ministério da Cultura vê seu
orçamento minguar e a Lei Rouanet privilegiar os “consagrados”, tá tranquilo,
tá favorável...
A Cultura como cereja do bolo, pra variar, apartada de seu caráter cidadão.
Hoje, volto lá. Com um Kit Kat.
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