Políticas culturais ladeira abaixo?

Leio, nos blogs da vida, que o atual presidente da Funarte, o ator Humberto Braga, à frente da instituição há pouco mais de cinco meses, já está de malas prontas. Reza a lenda que o também ator Stepan Nercessian foi o escolhido pelo recém-empossado ministro da Cultura, Roberto Freire, para assumir a autarquia responsável por levar adiante as políticas públicas voltadas para as artes. Humberto Braga, por sua vez, havia substituído o filósofo Francisco Bosco, que presidiu a Funarte por um ano e dois meses e pediu exoneração do cargo após o impeachment de Dilma Rousseff, por considerar ilegítimo o governo de Michel Temer. Bosco substituíra Guti Fraga, ator e idealizador do premiado grupo Nós do Morro, que durou menos de dois anos como presidente. Também por dois anos presidiu a Funarte, antes de Fraga, o ator Antonio Grassi, atualmente diretor-executivo do Museu Inhotim, de Minas Gerais.

Cansa a beleza fazer esses cálculos, mas em seis anos, e a confirmar-se o aceite do convite feito a Nercessian, a Funarte teve, nada mais, nada menos, do que cinco presidentes. E esta dança das cadeiras parece estar diretamente relacionada à troca de comando do ministério. Desde 2011, houve cinco ministros da Cultura: Ana de Hollanda (2011/2012), Marta Suplicy (2012/2014), Juca Ferreira (2015/2016), Marcelo Calero (2016), Roberto Freire (2016).

É bastante questionável a institucionalização, a estabilidade, a perenidade das políticas culturais na esfera federal com tamanho rodízio de gestores que mal têm tempo de “esquentar a cadeira”, incapazes de sobreviver às turbulências políticas submetidas a interesses partidários e corporativos, nem sempre em conformidade com o interesse público. Noves fora a malfadada decisão de extinguir o Ministério da Cultura, transformando-o numa secretaria vinculada ao Ministério da Educação. A mera suposição de que as políticas públicas de cultura não merecem um espaço na Esplanada dos Ministérios, o que, a meu ver, tem caráter simbólico e não deve ser desconsiderado, revela o pouco apreço pelo campo. A tentativa de mudança, quer dizer, de rebaixamento de status significou muito mais do que mera troca semântica, na medida em que o orçamento destinado à área está longe do preconizado como o ideal pela UNESCO.


Até quando a Cultura será tratada como cereja do bolo? 


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