Dia desses, Miguel foi à padaria comprar um pão doce.
A padaria fica na mesma rua do nosso prédio, na mesma calçada, embora haja a
necessidade de atravessar uma transversal que é bem tranquila. Ele desceu junto
com a mãe, que disse que ia ao mercado, mas ficou observando-o de longe, sem
tirar sua sensação de independência e autonomia. Ela conseguiu gravar o final
da aventura, Miguel apresentando o pacote no caixa, o caixa devolvendo o pacote
porque não o havia pesado, Miguel voltando com o pacote devidamente pesado,
entregando o dinheiro, recebendo o troco e a sacola contendo a delícia do café
da manhã. Saiu lépido e fagueiro.
No alto dos seus sete anos, o rapazola já fica alguns
minutos sozinho em casa quando o pai ou a mamãe tem de ir ali na esquina. Ele
também já tem autorização para subir ou descer os três lances de escada que
separam nosso apartamento da portaria indo ou vindo da pracinha, onde
costumeiramente encontra os amiguinhos para jogar bola, andar de skate, de
bicicleta, jogar futebol de botão, batalhar com as indefectíveis cartas Pokémon
ou, simplesmente, brincar no nos brinquedos do parquinho. Também está
autorizado a atravessar a rua entre a pracinha e a calçada, sempre na faixa de
pedestres marcada com tinta branca, por onde atravessam, também, carrinhos de
bebê e cadeiras de rodas dos velhinhos que tomam sol no início da manhã ou no
final da tarde. Geralmente, atravessa ali para ir comprar Ice Tea de pêssego da
Adega da Praça, um pé-sujo de primeira linha. Obviamente, é orientado a olhar
para os dois lados, sempre, mesmo que não haja tráfego. Lamentavelmente, são
exceção os motoristas que param o veículo quando veem uma criança querendo
atravessar a rua, pior ainda quando esta criança está sozinha. Eu fico, de
longe, observando seu comportamento, se está obedecendo às regrinhas básicas de
sobrevivência na selva do trânsito carioca. Menos mal que a quantidade de
carros que passa por ali não é das maiores, ainda assim, todo cuidado é pouco.
Então, tá. Você dá um dedinho e ele já quer o braço.
Você dá o braço, e ele já quer o corpo inteiro. E faz todo o sentido, afinal,
por que pode isto e não pode aquilo? Que arbitrariedade é esta? Quais são os
critérios que delimitam a fronteira entre o permitido e o proibido?
Lembrei-me de uma das canções que mais gosto do Sting,
resumida nestas estrofes:
Free, free, set them free.
Free, free, set them free.
Free, free, set them free.
Free, free, set them free.
Free, free, set them free.
If you love somebody, if you love someone,
If you love somebody, if you love someone set them free.
(Free, free, set them free.)
Set them free.
(Free, free, set them free.)
Set them fee.
(Free, free, set them free.)
Set them free.
(Free, free, set them free.)
If you love somebody, if you love someone set them free.
(Free, free, set them free.)
Set them free.
(Free, free, set them free.)
Set them fee.
(Free, free, set them free.)
Set them free.
(Free, free, set them free.)
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