Saudades de 2016

E eu, me achando o último biscoito do pacote, o rei da cocada afrodescendente, a raspa do tacho, o hipster da Federal, o Wolverine dos sonhos pornográficos da senhora minha esposa, barbudo e cabeludo, sou esculhambado exatamente por ela. Diz que pareço um “pochetudo”, manja?  Aqueles caras que andam de pochete atravessada, estilo capanga, mal cuidados, mal vestidos, com bafo de cachaça? Implora-me que vá ao barbeiro. Fui e me arrependi. Lá chegando, sou atendido pelo meu compadre que me tosa há cerca de vinte anos, já estamos na terceira geração dos Gruman neste salão. Papo vai, papo vem, entra um jovem adulto como eu, pergunta se tem horário mais pra noitinha. Quando sai, meu compadre diz que o fulano é economista, está sempre dando entrevista na televisão, pergunto onde o cidadão trabalha, “não sei o local, só sei que é no centro”. E então, num sussurro, como se fosse um segredo a ser guardado a sete chaves, o homem da tesoura me confidencia que, segundo o economista, 2017 vai ser muito, mas muito pior que 2016, que em 2016 o Rio de Janeiro ainda teve investimentos em obras públicas e o nível de desemprego não desandou, mas em 2017 a prefeitura não conseguirá esconder os rombos (roubos?) em suas contas e que a cobra vai fumar. Saí de lá cabisbaixo, desolado, olhar perdido, logo na sexta-feira.


Tá vendo, mulher? Deixa meus pelos em paz!!!!! 


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