Reza a lenda
que, durante o apartheid sul-africano, era bastante disseminado o “método científico”
popularmente conhecido como “teste da caneta”, utilizado na determinação da “raça”
do fulano. Consistia em colocar uma singela caneta no cocuruto da cobaia e, caso
escorresse pela cabeleira, o diagnóstico seria positivo para a branquitude. Talvez
venha daí as expressões estereotípicas “cabelo bom” e “cabelo ruim”, e que, no
segundo caso, foi símbolo de estigma por muito tempo. Hoje, a estética afro é
valorizada, e eu acho muito bacana o cabelo no estilo Black Power. Quem não se
lembra do ídolo rubro-negro Júnior Capacete? Gostaria muito de cultivá-lo, mesmo
porque o meu é, de acordo com o padrão politicamente incorreto “meio ruim”, talvez
passasse raspando no “teste da caneta”. Entretanto, ainda que meu desejo fosse
contemplado ao abrir as portas da esperança, ficaria ressabiado de andar por aí
exibindo o novo visual. Vai que a patrulha ideológica, que adora reduzir o seu
lugar no mundo a fenótipos e objetos-fetiche, interpretasse meu gosto estético não
como forma de estabelecer um ponto de contato entre indivíduos, compartilhar
uma identidade capilar, mas como desafio, zombaria, provocação, apropriação
cultural... Mas no Halloween (Colonizado! Colonizado! Colonizado!) pode, ok?
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