Depoimento
de Guilhermina Augusta:
“Olha, quero começar este depoimento deixando claro
que o amarelado do meu rabo não é sujeira, não é encardido, sou asseada pra
caramba, tomo banho todos os dias, várias vezes ao dia, inclusive lavo minhas
partes íntimas sem maiores pudores, na frente de quem quer que seja. Bom,
continuando... Meus pais humanos me pegaram num abrigo na Tijuca, eu e meus
irmãozinhos fomos resgatados depois de nossa mamãe ter sido atropelada, acho
que foi isso. Eu grudei na blusa da moça que me observava, como um broche, e de
lá não saí mais até ser levada embora. Fui levada numa bolsa de pano, andei de
metrô pela primeira e única vez naquele sábado longínquo de 2007. Façam as
contas, ora, tenho quase onze anos. Fui desmamada cedo, então, costumo afofar a
pança do meu pai humano em busca de conforto. Também gosto de conversar, mas,
aparentemente, papai não me entende bem, de quê adianta falar inglês, francês e
espanhol e me deixar no vácuo? Gosto de dormir nos pés da mamãe e na janela do
quarto do meu irmão humano, pegando uma brisa. Solto pelo pra cachorro (sente a
ironia...), ocasião em que me escovam as costas e tiram tufos e mais tufos.
Adoro massagem nas costas, irrefletidamente levanto o bumbum porque o instinto
é um problema. Nunca tive namorado, fiquei pra titia...
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