Sentados ao meu lado, no banco da praça, um casal de
velhinhos octogenários conversa amenidades e eu, como fofoqueiro juramentado
(antropólogo nada mais é que um fofoqueiro legitimado pela academia), prestava
atenção. A velhinha repousando a mão direita sobre a mão esquerda do velhinho e
eu lembro imediatamente da Renata, que diz que quer ficar velhinha ao meu lado,
eis aqui seus votos matrimoniais. O velhinho olha para cima e observa um bando
pássaros passar por cima de nós naquela típica formação em V. Ele vira pra
velhinha e diz que não sabe o porquê daquela formação em V e lamenta não saber
ao menos o nome da espécie que nos sobrevoava porque, se a soubesse, colocaria
no Google, o novo nome do antigo “pai dos burros” e, como num passe de mágica,
a dúvida se dissiparia. Em seguida, ouço um toque de celular, e o velhinho tira
um aparelho bastante moderninho, embora não de último tipo, mas superior ao meu
de até bem pouco tempo atrás, observa a tela e não reconhece o número. Eu o reconheço,
olho espichado, era uma ligação de São Paulo. O velhinho vira para a velhinha
e, entre a resignação e a irritação, reclama que ficam gastando seu tempo e
paciência tentando vender produtos pelo telefone. As benesses e desconfortos da
tecnologia são democráticos.
Hoje, a terceira idade (há controvérsias sobre ser
esta a “melhor idade”) só não aprende a mexer nas geringonças tecnológicas se
não quer, tem tudo quanto é tipo de curso, desde o bê-á-bá de como ligar a
máquina até processos mais refinados, como criar contas no Facebook ou comprar
passagens aéreas e reservar hotéis. João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, se
auto-sacaneava quando o assunto era a aversão aos inevitáveis progressos
tecnológicos. Numa crônica intitulada “Novos Pesadelos Tecnológicos”, o genial
imortal itaparicano conta que, certa vez, uma revista o chamou de “tecnófobo
convicto”, acusação com a qual não concordava, admitindo, por outro lado, que “no meu tempo, tudo o que o sujeito
precisava para ser escritor ou jornalista eram um lápis, uma canetinha ou uma
máquina de escrever. Hoje não, hoje o sujeito tem de aprender algumas coisas de
novo toda semana, sob o risco de se ver desempregado, ou ridicularizado por
amigos sem piedade”. Alguém discorda?
Voltando à dúvida do velhinho, trago a minha
contribuição e espero encontrá-lo brevemente no mesmo banco da praça para
contar-lhe a novidade. Algumas aves, incluindo cisnes, gansos, gruas, pelicanos e
flamingos, voam de forma apertada, em formato de V, enquanto outros voam
juntos, mas em bandos mais afrouxados. Segundo os cientistas essas formações em
V ajudam os pássaros a conservarem sua energia, já que cada um voa ligeiramente
à frente do outro, proporcionando menos resistência ao vento. Para
manter a justiça no grupo, as aves se revezam na liderança, e as que se cansam
se deslocam para trás. Idade, sexo e tamanho do corpo também determinam quem vai
liderar a formação em V. Em um bando de adultos e juvenis, os mais novos
geralmente não vão à frente porque são menos capazes de manter altas
velocidades em posição de liderança e retardariam o grupo inteiro para baixo.
A formação em V também melhora a comunicação e a coordenação do bando,
permitindo que as aves se orientem melhor e acompanhem sua rota de forma mais
direta.
E viva o Google.
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