O futebol é o símbolo icônico da
globalização. Anteontem, o Barcelona precisava reverter uma desvantagem de
quatro gols, derrota imposta pelo Paris Saint-Germain na capital francesa.
Quando fui pegar o Miguel na aula de inglês, o jogo estava dois a zero pros
catalães e a eliminação da Liga dos Campeões da Europa parecia inevitável. Para
mim, tanto faz quanto tanto fez. Sou Flamengo e só. Já sentadinho à espera do
moleque, de repente ouço uma gritaria, espécie de comemoração. Pouco depois,
outro pai que também estava por ali diz, impressionadíssimo, para o filho que
saía da sala, que o jogo havia terminado em 6 a 1 pros azul-grená. Detalhe:
neste mesmo dia, o Flamengo estreava na Copa Libertadores no Maracanã e a
pracinha São Salvador, termômetro da empolgação dos torcedores, mal
lembrava dia de jogo do campeonato
carioca.
Dias antes, no táxi que nos
trazia da casa dos avós paternos, a motorista, simpaticíssima, puxa papo ao
perceber que Miguel jogava futebol na celular, pergunta-lhe por quem batia seu
coração torcedor. Sem pestanejar, ele responde, na ordem, “Barcelona” e “Real
Madrid”. Fiquei abismado. E os times cariocas?
“Ah, primeiro vem o Barcelona,
depois o Real Madrid, aí vem o Botafogo e, em quarto, o Flamengo”.
Fiz um muxoxo, seguido de
veementes protestos, acompanhado da solidária taxista, também rubro-negra, que
cantarolava a Maria Betânia que tocava no rádio. Mas deixei pra lá, eu mesmo já
fui botafoguense, involuntariamente, como prova uma foto minha ainda de
cueiros. A cura veio anos depois. De qualquer forma, acredito sim que tudo vale
a pena quando a alma não é pequena.
Menos torcer pro Vasco. Aí é
deserção na certa.
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