Miguel, sangue e agulhas.

No último sábado, Miguel fez exame de sangue pela segunda vez na vida. Exame de rotina, os resultados revelam uma saúde de touro. Acordou às seis da manhã. Chegamos ao laboratório antes das sete. Ele pergunta se vai doer, e nós dizemos que pode ser que sim, pode ser que não, mas que, se doesse, estaríamos ali, junto dele, para ajuda-lo a lidar com o sofrimento, que era passageiro. Da primeira vez que tirou sangue, há uns três anos, ficou no colo da mãe, chorou horrores antes, não depois, de a agulha penetrar a veia do braço esquerdo. Desta vez, novamente sentou no colo da mãe, a funcionária do laboratório, uma senhora simpática (é duro ser simpático às sete da matina de um sábado...) orientou Renata sobre como ajeitar o moleque para que o procedimento fosse realizado sem maiores problemas, transformou o álcool que se passa no local a ser picado em “anestesia”, acalmando-o, e, observando a ficha do paciente e percebendo que seus sobrenomes eram rigorosamente iguais, exigiu que o honrasse. Miguel parecia estar hipnotizado pela agulha e pelo sangue que passava pelo fio e entrava nos tubos de ensaio. Nem um “ai” antes, nem durante, nem depois. Nem quando a simpática enfermeira retirou a agulha, algo que, a mim, só de pensar, me dá calafrios. E, como recompensa à sua fortaleza, seguimos para um café da manhã na ótima padaria Pão & Companhia (não é jabá, não é jabá), que ainda rendeu um pequeno gracejo do filhote:

- Sabe por que se chama “companhia”? Porque eu vou com a companhia de vocês. E eu amo vocês.

Se doo sangue, e o faço com muitíssima satisfação e regularmente, embora muita gente doe por causa do lanchinho (muito bom, por sinal) servido pela lanchonete do Instituto Nacional do Câncer, ou me tatuo, devo ficar deitado, caso contrário, desmaio na certa. Portanto, a questão é bastante clara: quando o assunto é sangue e agulha, Miguel é Sant’Anna.


Acabo de receber e-mail do INCA lembrando que está na época do martírio. Quem sabe o Miguel não possa ir no meu lugar? 


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