Miguel: o violinista no telhado

Uma das diversões que eu e minha avó materna tínhamos no tempo em que frequentávamos os concertos de sábado à tarde no Theatro Municipal do Rio de Janeiro era adivinhar se os virtuoses irmãos gêmeos violoncelistas, que compunham a Orquestra Sinfônica Brasileira em seus áureos tempos, estariam presentes. Geralmente estavam. Sentavam-se no flanco esquerdo, um atrás do outro. Sempre me fascinou o violoncelo e, mais ainda, o violino. Embasbacava-me a destreza do Spalla, o primeiro-violino da Orquestra, que entrava por último, antes apenas do maestro, e afinava o instrumento acompanhado dos demais músicos. Como conseguiam tirar aqueles sons que te levavam para longe? Que te emocionavam?

Década e meia depois, projeto egoisticamente meu sonho de ser um violinista no Miguel. Na escola em que estuda, desde o início do ano, duas vezes por semana, participa das atividades desenvolvidas pela associação Violinos Cariocas, que ensina gratuitamente crianças e adolescentes a arte de tocar este pequeno e agudo instrumento de corda.

Três meses e meio depois de iniciado o processo, os primeiros frutos começam a aparecer. Ontem, durante as comemorações da Semana Anne Frank, a patrona da escola, Miguel e seus colegas apresentaram cinco breves canções aprendidas segundo um método japonês, conforme explicou a professora. Ah, os japoneses e seus inventos, o que seria de nós sem eles... “Chantageado” emocionalmente pela possibilidade de não participar da apresentação se não praticasse em casa, até porque a aprendizagem depende de intensa dedicação, repetição, tentativa e erro, braço dolorido, Miguel meio que “na marra” esmerou-se no treino. O resultado foi lindo.


A bisavó estaria orgulhosa. 



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