Nos seus escassos oito anos de vida, Miguel já teve a
felicidade de experimentar, com o sexo feminino (até onde sei, apenas o sexo
feminino) mais trocas de olhares cúmplices e recadinhos do que seu pai até os
quinze anos. Tudo bem, ele não precisa se esforçar muito, é carismático, boa
praça e, pecado dos pecados, um cara muito bonito. Acumula, neste curto
período, uma namorada formal, embora platônica, que não vê desde que teve
aceito o pedido de namoro há mais de um ano, e um selinho (vai saber se foi
apenas um, e se foi mesmo um selinho comportado...) que desencadeou um pedido
de namoro ao pai da moça, pedido este rejeitado com as devidas ameaças de morte
e indignação típica dos pais de menina, que acham que podem protege-las (?) de
tudo e de todos, esquecendo-se o Miguel de que poligamia no Brasil é ilegal.
Na escola, soube, através de terceiros, que uma colega
de sala arrasta-lhe uma asa de fazer gosto, mas ele, desdenhoso, diz que a
colega não lhe interessa. E, ontem, a fila das Migueletes aumentou um pouco
mais: recebeu, das mãos de uma cúmplice, um envelope misterioso. Ao abri-lo,
uma folha de papel adornada com corações e estrelas e a frase definitiva e
inapelável “Eu te amo, Miguel de Sant’Anna”. Chego em casa e, fingindo-me de
bobo, pergunto ao Don Juan o que era aquele papel, e ele tem a cara de pau de
dizer que não sabia de nada, sorrindo de canto de boca. Revela, então, seu interesse
por uma colega que, aparentemente, não lhe dá muita bola, mas não perde as
esperanças porque sabe que no seu (dela) coração, como o de mãe, sempre cabe
mais um. Pai zeloso que sou, quero ajuda-lo
a conquistar o coração da beldade.
Alguém sabe fazer vodu?
Comentários