A prima do Miguel

Na cozinha, a tia gozadora, sentindo um cheiro esquisito pairando no ar, e que definitivamente não era do cozido à portuguesa que a avó preparava com tanto esmero, pergunta quem havia soltado um mal-cheiroso pum. Todos, em uníssono, negam a autoria, apesar da presença do avô, historicamente um peidorrento contumaz. Resolvo perguntar à minha sobrinha se era a culpada, e ela, com semblante sério, responde que não, que não havia sido ela. Insisto na pergunta e peço para que a moleca mostre as palmas das mãos, advertindo-a de que, ao menor sinal de cor amarela, estaria condenada. Ela, ainda séria, acreditando realmente que soferia alguma punição, mostra as duas palmas e, ufa, nada de cor amarela. Não satisfeita, resolve levantar a saia e baixar a calcinha, na frente de todo o mundo, provando por “a” mais “b” que não havia vestígios concretos de cocô, xixi ou pum que a desabonasse frente à família, já é mocinha e sabe muito bem que lugar de fazer porcaria é no banheiro e de porta fechada. 

Laurinha adora o primo, desde sempre. Quando pequena, Miguel era “Beguel”. Observa-o embevecida. Joga-se em cima dele quando ele está no sofá tentando assitir ao seu desenho favorito. Na sala de estar da casa dos avós, há uma foto dos primos, uma foto recente, tirada no aniversário de quatro anos da prima. Dia desses, a avó confidenciou que Laura, hipnotizada com a imagem, disse taxativamente que aquele porta-retratos não poderia sair dali em hipótese alguma. Macaca de imitação. No restaurante, Miguel resolve tomar um picolé e faz de conta de conta que o picolé é um batom. Começa a emperequetar-se com a maquiagem fictícia, ao que é copiado pela fã número um. Ele gosta de ser paparicado, sentir-se o dono da situação, o centro das atenções, o primo mais velho, aquele a ser seguido, imitado. Daqui a alguns anos, ele será seu guarda-costas na balada.


Vai encarar? 


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