Em Antropologia, um instrumento conceitual interpretativo
básico da realidade que aprendemos logo nas primeiras aulas da disciplina Relações
Interétnicas é o de “minoria”. O conceito de “minoria” não pode ser
compreendido, apenas, em sua dimensão quantitativa ou demográfica, deve ser
usada contextualmente, segundo as relações de poder estabelecidas entre os
distintos grupos sociais que formam dada população. No estado da Bahia, por
exemplo, embora a maior parte dos baianos seja negra, a população negra é,
simbolicamente, uma minoria política. O mesmo se passava (e ainda se passa,
imagino) na África do Sul durante o regime do Apartheid.
Dia desses, Miguel levanta uma questão para a qual não
tive resposta de bate-pronto:
- Papai, se uma pessoa negra me pede emprestado um
lápis cor de pele, ela quer um lápis preto ou um lápis branco?
- (depois de alguns segundos angustiantes) Não sei, meu
filho. Acho que lápis preto.
- Mas também não seria branco, porque eu não sou
branco. Branca é a Guilhermina (uma de nossas três gatas).
Pois é. A paleta de cores de pele no Brasil é
infindável, depende de quem fala, para quem fala, de onde fala. O famoso lugar
da fala. Tem o branco azedo, o marrom bombom, o negro retinto. O Censo do IBGE
contabiliza centenas de denominações de cor Brasil afora, levando à loucura os
recenseadores, fazendo a alegria de pesquisadores, nó na cabeça de pais que
precisam responder devaneios filosóficos dos filhos.
Quem tem a prerrogativa de definir a cor do lápis? O
que pede? O que empresta? Cor visível. Cor invisível. Relações de poder no
microcosmo.
Guilhermina Augusta
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