O chamado

Nas grandes ondas migratórias de outros tempos, da Europa para as Américas, o “chefe da família” deixava para trás mulher e filhos e seguia rumo ao desconhecido em busca de melhores condições de vida. Fugia-se da pobreza e da intolerância religiosa. Normalmente, este chefe de família era recebido por quem já havia feito a travessia e estava mais ou menos familiarizado com o novo contexto e recebia a assistência de instituições comunitárias criadas exatamente para acolher os recém-chegados. Apoio financeiro e psicológico, dando-lhes um sentimento de pertencimento, referências simbólicas e de identidade necessárias para a reconstrução da vida no novo mundo. Fazer a América. Depois de conseguir um trabalho e economizar tanto quanto possível, o imigrante escrevia cartas em que “chamava” os familiares, comprando-lhes a tão desejada passagem de navio. Dali a semanas, a família estaria novamente reunida.

Há quase um mês, Renata foi “fazer a América”. Tudo bem, não teve de atravessar o Atlântico, tomou um avião e hora e meia depois havia chegado ao destino. Mas é corajosa, destemida, com “aquilo roxo”, como diria aquele caçador de marajás, jogou-se no precipício e, sorte a dela, o para-quedas abriu. Na despedida, lágrimas do “chefe de família” e da esposa (marido) que ficou com o filho de oito anos à espera da “carta de chamada”. Parece que esta carta chegará mais rápido do que imaginávamos, e a saudade que os membros da família Sant’Anna Gruman hoje matam através de videos mais ou menos nítidos do whatsapp se transmutará em abraços e beijos sem hora para terminar.


Vai dar certo. Tem que dar.


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