“Violência contra a mulher é crime. Denuncie”.
Esta placa cruzou o nosso caminho quando seguíamos
para o Parque São Lourenço, em Curitiba, nossa nova morada. Ato contínuo,
Miguel questiona:
- Mas, se tem que proteger as mulheres, também tem
que proteger os homens.
Foi aí que tivemos de contextualizar a necessidade
de placas como aquela, das delegacias especializadas de atendimento à mulher,
de explicar que a sociedade brasileira, por séculos e ainda hoje, é machista e
que ser machista é achar que o homem é superior ou melhor que a mulher e que a
mulher deve se submeter aos desejos do homem e que, quando isso não acontece, o
homem tem o direito de “enfiar a mão” na mulher para ela aprender qual o seu
lugar e deixar de ser besta. Nem entramos na Lei Maria da Penha, havíamos
acabado de chegar ao Parque e os interesses do moleque, tal qual um gatinho,
haviam mudado de uma hora para outra. Mas deixei bem claro que penso:
- Filho, a delegacia da mulher é uma emergência,
mas o ideal é que a delegacia atenda todo mundo, homem ou mulher. Ter uma delegacia
da mulher não é a solução, entende?
Ele concordou.
Há alguns dias, Miguel já havia questionado a
existência dos “vagões cor de rosa”do metrô carioca, exclusivo das mulheres -
aquelas que os idiotas da objetividade reduzem às possuidoras de vagina, a
despeito de sua heterossexualidade ou homossexualidade ou bissexualidade ou
seja lá qual for sua identidade de gênero .
Com pouca idade, meu filho já parece ter uma ideia
do que são os direitos humanos, direitos universais que independem da cor da
pele ou das preferências sexuais do indivíduo. Ele não é misógino, ora bolas,
simplesmente exibe uma compreensão do
mundo e das relações humanas mais pura e descomplicada – diferente de simplória
e ingênua, vejam bem - do que muito intelectual e político de carreira que
insiste em naturalizar diferenças culturalmente construídas.
Ainda viveremos uma época em que nossas identidades
serão construídas, desconstruídas, reconstruídas, compartilhadas, exibidas,
gozadas, experimentadas, rechaçadas por um ato de vontade, por uma ação
realmente afirmativa, e não uma reação à ameaça externa.
Feliz 2018.
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